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Aluizio Ribeiro

História e Origem do Gado Nelore

A pecuária é uma das atividades mais tradicionais e economicamente relevantes do Brasil, e dentro deste vasto universo, o gado Nelore ocupa uma posição de destaque. Reconhecido por sua resistência e adaptabilidade, o Nelore não só ajudou a moldar a paisagem da pecuária brasileira como também se tornou sinônimo de carne bovina de qualidade no país. Neste texto, exploraremos a história e a origem do gado Nelore, desde suas raízes na Índia até seu papel central na pecuária moderna do Brasil.



Um boi da raça nelore, ao centro da imagem, em pé, em pastagem verde e pequena, e ao fundo do lado esquerdo, ao fundo, outro boi da raça nelore, também em pé, e do lado direito, ao fundo, 4 bois, dois em pé e dois deitados, todos da raça nelore.
Gado Nelore em pastagem da Fazenda BS Chica Doce


As Origens Indianas do Gado Nelore


O gado Nelore é originário da Índia, mais especificamente da região que hoje corresponde ao estado de Maharashtra, no oeste do país. A raça pertence ao grupo dos zebuínos (Bos indicus), uma subespécie do bovino domesticado que se distingue dos taurinos (Bos taurus) por suas características físicas e fisiológicas adaptadas ao clima tropical. Entre as principais características dos zebuínos estão a presença de uma corcova sobre a cernelha, pelagem curta e lisa, e a notável resistência a parasitas e doenças tropicais.


Na Índia, o gado Nelore é conhecido como Ongole, nome derivado da cidade homônima na qual a raça foi extensivamente desenvolvida. A seleção natural ao longo de séculos, em um ambiente de clima quente e condições alimentares nem sempre ideais, resultou em um gado extremamente resistente. Esses bovinos eram utilizados principalmente como animais de tração, além de serem valorizados por sua produção de leite.


A Chegada do Gado Nelore ao Brasil


O gado Nelore chegou ao Brasil no final do século XIX. A primeira importação documentada ocorreu em 1868, quando alguns exemplares foram trazidos da Índia para o estado de São Paulo. No entanto, foi apenas nas primeiras décadas do século XX que a raça começou a ganhar popularidade entre os pecuaristas brasileiros. Diversas fazendas no estado de São Paulo, Minas Gerais, e Goiás começaram a investir na criação de Nelore, atraídos pela resistência da raça às duras condições climáticas do Brasil central.


No início, o foco dos criadores estava na adaptação do Nelore ao ambiente brasileiro, buscando aumentar a produtividade e a qualidade da carne. A resistência do Nelore ao calor, sua capacidade de andar longas distâncias em busca de água e pasto, e a alta resistência a parasitas foram características que garantiram sua rápida disseminação. A partir da década de 1940, o Nelore já estava bem estabelecido em várias regiões do país, ocupando uma posição central na pecuária nacional.


O Desenvolvimento da Raça no Brasil


Com o tempo, os pecuaristas brasileiros começaram a perceber o potencial do Nelore não apenas como uma raça adaptada ao ambiente tropical, mas também como uma raça que poderia ser melhorada geneticamente para aumentar sua produtividade. A partir da década de 1960, começou um esforço coordenado de melhoramento genético que visava aumentar a qualidade da carne, o ganho de peso, e a eficiência reprodutiva do gado Nelore.


Esse processo envolveu a importação de novos exemplares da Índia e a seleção rigorosa dos melhores animais para reprodução. Criadores brasileiros começaram a cruzar Nelore com outras raças zebuínas e taurinas, buscando combinar as qualidades desejadas. O resultado foi um rebanho mais homogêneo e produtivo, capaz de competir em termos de qualidade de carne com as melhores raças do mundo.


Outro fator importante no desenvolvimento do Nelore no Brasil foi o surgimento de associações de criadores e a criação de registros genealógicos. Em 1955, foi fundada a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), que passou a desempenhar um papel central na promoção e melhoramento do gado Nelore. A ABCZ promove exposições e competições que ajudam a destacar os melhores exemplares da raça e a difundir as práticas de manejo mais eficientes.


O Nelore na Pecuária Moderna


Atualmente, o gado Nelore é a raça dominante na pecuária brasileira, representando cerca de 80% do rebanho bovino nacional. Esta supremacia não é por acaso. O Nelore tem se mostrado extremamente eficiente na produção de carne em condições de pasto, o que é ideal para o sistema extensivo de criação predominante no Brasil.


A carne do Nelore, embora menos marmorizada que a de raças europeias como Angus, é valorizada por sua maciez e sabor, especialmente quando bem manejada. O Nelore também se destaca pela sua precocidade sexual, ou seja, a capacidade de iniciar a reprodução em uma idade mais jovem, o que aumenta a produtividade do rebanho.


No contexto da pecuária moderna, o Nelore tem sido beneficiado por avanços em tecnologia de manejo e genética. A inseminação artificial e a transferência de embriões são amplamente utilizadas para acelerar o melhoramento genético. Além disso, a nutrição do gado evoluiu significativamente, com dietas balanceadas que maximizam o ganho de peso e melhoram a qualidade da carne.


Outro avanço importante foi a introdução de sistemas de rastreamento e certificação de qualidade, que permitem que a carne de Nelore seja comercializada com garantias adicionais de origem e padrão. Isso é especialmente relevante para o mercado de exportação, onde o Brasil é um dos principais fornecedores de carne bovina do mundo, com o Nelore sendo a principal raça envolvida nesse comércio.


A Importância Cultural e Econômica do Nelore no Brasil


Além de sua importância econômica, o Nelore também tem um significado cultural no Brasil. Em muitas regiões, a criação de gado é uma atividade passada de geração em geração, e o Nelore se tornou um símbolo do sucesso e da tradição na pecuária. Exposições agropecuárias em todo o país exibem orgulhosamente exemplares da raça, e concursos de julgamento de Nelore são eventos aguardados com entusiasmo.


A importância econômica do Nelore no Brasil não pode ser subestimada. A raça contribui significativamente para o PIB agrícola do país e sustenta a cadeia produtiva da carne bovina, que inclui desde pequenos pecuaristas até grandes frigoríficos. Além disso, a carne de Nelore tem conquistado mercados internacionais exigentes, como a União Europeia e o Oriente Médio, onde a qualidade e a rastreabilidade são critérios cruciais.


Desafios e Perspectivas para o Futuro


Apesar de seu sucesso, a criação de gado Nelore enfrenta desafios. Um dos principais é a pressão por práticas mais sustentáveis na pecuária. O desmatamento, as emissões de gases de efeito estufa e a necessidade de melhorar a eficiência produtiva são questões que o setor precisa enfrentar. Felizmente, já existem iniciativas em andamento, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que visam reduzir o impacto ambiental da pecuária e melhorar a sustentabilidade do gado Nelore.


Outro desafio é a competição com outras raças que têm características diferentes, como maior marmorização da carne, que é muito valorizada em alguns mercados. Para manter sua posição de liderança, o Nelore deve continuar a se adaptar e melhorar, utilizando as mais recentes inovações em genética, manejo e nutrição.


O Futuro do Gado Nelore


O gado Nelore tem uma história rica e uma origem fascinante, que vai desde as planícies da Índia até as vastas pastagens do Brasil. A sua capacidade de adaptação, resistência e produtividade fez do Nelore a raça predominante na pecuária brasileira, desempenhando um papel crucial na economia do país. À medida que a pecuária enfrenta novos desafios e oportunidades, o Nelore continua a ser uma escolha confiável e estratégica para os criadores brasileiros, simbolizando tanto a tradição quanto a inovação no campo.


O futuro do gado Nelore parece promissor, com contínuos esforços de melhoramento genético e adoção de práticas mais sustentáveis. Com sua rica história e constante evolução, o Nelore está bem posicionado para continuar liderando a pecuária brasileira e contribuindo para a alimentação de uma população global em crescimento.


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